Louvest François-Simon




O Céu e o Inferno
ou
A Justiça Divina Segundo o Espiritismo
Autor: Allan Kardec.
Lançado em 1865.

Breve relato da obra: Trata-se, como o próprio título diz, da visão espírita das recompensas e penas futuras, comumente conhecidas como céu e inferno na tradição católica. Contém impressionantes relatos de espíritos das mais diversas categorias.

Segunda Parte – cap. V
SUICIDAS
LOUVEST FRANÇOIS-SIMON
(Do Havre)

A seguinte comunicação foi dada espontaneamente, em uma reunião espírita no Havre, a 12 de fevereiro de 1863:

“Tereis piedade de um pobre miserável que passa há muito por cruéis torturas?! Oh! o vácuo... o espaço... despenho-me... caio... morro... Acudi-me! Deus, eu tive uma existência tão miserável... Pobre diabo, sofri fome muitas vezes na velhice e foi por isso que me habituei a beber, a ter vergonha e desgosto de tudo.
Quis morrer, e atirei-me... Oh! meu Deus! Que momento! E para que esse desejo, quando o termo estava tão próximo? Orai para que eu não veja incessantemente este vácuo debaixo de mim... Vou despedaçar-me de encontro a essas pedras! Eu vo-lo suplico, a vós que conheceis as misérias daqueles que não mais pertencem a esse mundo.
Não me conheceis, mas eu sofro tanto... Para que mais provas? Sofro! Não será isso o bastante? Se eu tivera fome em vez deste sofrimento mais terrível e aliás imperceptível para vós, não vacilaríeis em aliviar-me com uma migalha de pão. Pois eu vos peço que oreis por mim... Não posso permanecer por mais tempo neste estado... Perguntai a qualquer desses felizes que aqui estão e sabereis quem fui. Orai por mim.
François Simon-Louvet.”

O Guia do médium: Esse que acaba de se dirigir a vós foi um pobre infeliz que teve na Terra a prova da miséria; vencido pelo desgosto, faltou-lhe a coragem, e, em vez de olhar para o céu como devia, entregou-se à embriaguez; desceu aos extremos últimos do desespero, pondo termo à sua triste provação atirando-se da Torre Francisco I, no dia 22 de julho de 1857. Tende piedade de sua pobre alma, que não é adiantada, mas que lobriga da vida futura o suficiente para sofrer e desejar uma reparação. Rogai a Deus lhe conceda essa graça e com isso tereis feito obra meritória.

Buscando-se informes a propósito do assunto, encontrou-se no Journal du Havre, de 23 de julho de 1857, a seguinte notícia, que resumimos:
“Ontem, às 4 horas da tarde, os transeuntes do cais foram dolorosamente impressionados por um horrível acidente: um homem atirou-se da torre, vindo despedaçar-se nas pedras. Era um velho puxador de sirga, cujo pendor à embriaguez o arrastara ao suicídio. Chamava-se François-Victor-Simon Louvet. O corpo foi transportado para a casa de uma das filhas, na Rua Cordeire.
Tinha 67 anos de idade.”

Observações de A. Kardec: Seis anos fazia que esse homem morrera e ele via ainda cair da torre, despedaçando-se nas pedras... Aterra-o o vácuo, horroriza-o a perspectiva da queda... e isso há 6 anos! Quanto tempo durará esse estado? Ele não sabe e essa incerteza lhe aumenta as angústias. Isso não equivale ao inferno com suas chamas?
Quem revelou e inventou esses castigos? Pois são os próprios padecentes que os vem descrever, como outros o fazem das suas alegrias. E fazem-no muita vez, espontaneamente, sem que neles se pense – o que exclui toda hipótese de sermos nós o joguete da própria imaginação.



Saber e Informar




É preciso saber. É preciso informar.



Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa de meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não acabem também eles vindo para este lugar de tormento”. Lucas 16:27-28.


A intenção deste blog é servir de canal para a fala dos Espíritos sobre um dos maiores equívocos no uso do livre-arbítrio: o suicídio.  
E dentro deste trágico cenário da realidade humana, perguntamos: Quem não gostaria de conhecer o futuro? Quem antes de fazer uma viagem há muito tempo acalentada não procuraria obter o máximo possível de informações sobre o local de destino? Por outro lado, quem recebesse uma notícia boa não ficaria ansiosíssimo por divulgá-la? E aquele que tomasse conhecimento de um perigo não se apressaria em avisar aos entes queridos?
Imaginemos a hipotética situação de uma viagem para a praia em que por qualquer motivo fôssemos à frente dos demais amigos e familiares. Ao chegarmos lá nos deparássemos com um tsunami ou qualquer outro evento catastrófico. Com certeza, uma de nossas primeiras medidas – se não a primeira – seria fazer de tudo para avisar a quem amamos para não ir para a referida praia. Diríamos a essa pessoa e com toda a dramaticidade que fosse possível para ficar onde estivesse e nem ao menos cogitasse a viagem. Tentaríamos passar o quadro dos acontecimentos com o máximo de detalhes na intenção de convencer sobre a impropriedade da ideia de se fazer a viagem.
Esta também é a intenção dos Espíritos, que sabem melhor do que nós sobre o pós-morte e principalmente qual seria o mal e bem-morrer decorrentes que sempre são do bem-viver ou não.
As almas de além-túmulo gritam angustiadas por aqueles que, como diz o Espírito Verdade¹: "vendo o céu, caem nos abismos do erro."
Gostaríamos de registrar também que todos os pesquisadores e profissionais ligados à temática do suicídio afirmam que o índice de suicídios entre religiosos é consideravelmente menor do que entre aqueles que não o são. O problema é que muitas abelhas, ao se afastarem da colmeia, convencem-se de que esta não mais existe. É a incredulidade capturando mais vítimas.
Mas fato é que a realidade do mais além de nossos sentidos existe. Há em grande parte do meio social a intenção de se deixar a questão da espiritualidade apenas como uma verdade de cada um e não como uma realidade basilar como de fato ela é. Isso é até certo ponto correto em virtude dos malefícios do fanatismo, dos interesses individuais e da falta de critérios científicos que permeiam a temática religiosa mundo afora. Contudo, equívocos humanos nunca alterarão a realidade. Todos nós temos muitas “verdades”, mas a Verdade chamada Deus é uma só. Logo: “aqueles que tiverem olhos de ver, que vejam”, conforme dizia Jesus.
Assim, fica a vontade maior de que toda a ignorância cesse sem se ter a estúpida pretensão de ser o único detentor da verdade. E, claro, também a certeza de que é omissão de socorro não jogar a corda para quem se afoga, mesmo que esta seja rejeitada. Mas é uma corda franca. Sabemos que as dores entenebrecem a existência e que os conceitos internos de cada um são variados, mas é preciso salvar, mesmo que o salvador não passe também de apenas mais um náufrago na reconstrução da ilha de seus desacertos.

Muita paz a todos. 

Lemes.




_________________________________________
(1) O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. VI.





Síntese


Emblema contido em O Livro dos Espíritos


Nesta postagem procuraremos fazer um resumo sobre as causas e consequências relatadas pelos espíritos sobre o suicídio.
O véu que encobre a realidade extracorpórea está em grande parte levantado pela doutrina espírita. Luzes foram postas sobre as trevas de nossa ignorância. Tolo será aquele que delas não fizer o uso adequado. Aliás, todo conhecimento, à semelhança de um farol de carro, é luz para se enxergar mais ao longe e elemento indispensável de proteção.
Veremos que a dor por mais insuportável que possa parecer sempre estará na iminência de atingir características mais intensas quando, ao invés de nos propormos a batalhar pela sua aceitação, solução e cura, optarmos pela medida extrema da morte.
Por isso, não se vai a um lugar sem antes saber o que tem lá. E é nesta linha de raciocínio que os espíritos procuram nos auxiliar, cansados que estão de ver o triunfo quase completo da ignorância sobre aqueles que justamente deveriam acabar com ela: nós seres humanos, tidos como racionais.
O problema é que com relação a certos lugares só é possível saber realmente como é, indo! E esse é o caso do mundo espiritual. Contudo, sempre dá para se ter uma ideia. Ou será que panfletos de agências de viagem não servem para nada?!
A intenção de nos alertar por parte de quem está do lado de lá sempre existiu. Isso se deu por aparições, médiuns, profetas, iluminados, etc. Só que sempre fica a dúvida: mas e se porventura tal realidade não existir, ou seja, tudo acabar com a morte do corpo? Enfim, e se a alma não passar apenas de um conjunto de sinapses cerebrais que deixará de existir com o fim do dito causador: o cérebro?
Essa é a crença materialista, a qual não deixa de ter lá seu fundamento, já que, até hoje, nenhum médico cirurgião encontrou dentro de um corpo humano ainda vivo algo além de matéria em formato de órgãos e secreções.  
Mas será que não seria arriscar demais, no caso do suicídio, buscar a morte sem antes adotar um critério mais seguro e não movido apenas pela constatação superficial de algo feita por outrem? Afinal de contas, há muito em jogo!
Um cego de nascença tem o direito de não acreditar na existência da luz. Contudo, ouviria muitos tentarem convencê-lo do contrário. E se no campo da razão fosse ele leal, poderia até não se convencer, mas ao menos acalentaria a possibilidade de existir algo que ao tocar qualquer objeto é refletido para toda parte e, quando esse mesmo reflexo toca o olho saudável de alguém, forma imagens tridimensionais no cérebro deste, ou simplesmente a luz.
Da mesma forma o barulho sobre a existência de Deus e de um mundo espiritual é muito grande para não se admitir ao menos a possibilidade.
Então, conclui-se que é no mínimo prudente ouvir – claro, sempre pelo filtro da razão –, quais são os fundamentos daquilo, que para uns é alucinação, para outros é suspeita e para muitos é fé.
Enfim, indagar: donde vêm essas ideias sobre o transcendental? Quais são as provas, visto que, como já dito, não é de uma visão in loco do interior do corpo humano? Que espécie de “alucinação” coletiva seria esta que gera toda uma rica e criativa gama de seres e fenômenos transcendentais, tais como deuses, fantasmas, céu, inferno, dimensões, etc.? Tudo isso é inventividade da mente humana ou realidade?
E mais ainda: como ficam as curas atribuídas à fé e tidas por milagrosas? Vêm simplesmente das sinapses cerebrais, ou seja, do poder sugestivo da mente material? Podem até vir, mas só isso já é fantástico demais para não se buscar entender o porquê das dores e das suas possibilidades de cura.
Mas como este texto visa trazer apenas um resumo daquilo que os espíritos informam sobre a temática do suicídio, vamos ao que interessa, sem ter a pretensão de ser o possuidor de todas as respostas para todas as circunstâncias e situações.
Faremos uma viagem no tempo, abarcando passado, presente e futuro. Claro, considerando como presente a nossa atual condição de seres encarnados, pois que, como é óbvio, o que é presente para nós encarnados, para um espírito desencarnado já é passado. 
Veremos a seguir algumas das causas e consequências do suicídio, procurando entender as "causas" citadas no presente texto como circunstâncias incitadoras ou patrocinadoras de eventual ideia suicida, e não do suicídio propriamente dito, visto que este para ser considerado como tal só uma única causa prepondera, que é o livre e consciente direito de escolha, também conhecido como livre-arbítrio. 
Para acessar as postagens correspondentes clique ao lado do que deseja ler:

PASSADO – CAUSAS [clique aqui]:

1º) Existir [clique aqui];
2º) Nascer [clique aqui];
3º) Circunstâncias Reflexas [clique aqui];
4º) Vergonha e Culpa [clique aqui];
5º) Vida Intrauterina, Infância e Juventude [clique aqui].


PRESENTE – CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS [clique aqui]:

1º) Obsessão [clique aqui];
2º) Ilusão [clique aqui];
3º) Transtornos Mentais [clique aqui];
4º) Vícios [clique aqui];
5º) Dor [clique aqui].


FUTURO – CONSEQUÊNCIAS [clique aqui]

FUTURO PRÓXIMO – ERRATICIDADE [clique aqui]:

1º) Imortalidade [clique aqui];
2º) Repercussão no Corpo Espiritual [clique aqui];
3º) Repercussão no Emocional [clique aqui];
4º) Repercussão em Terceiros [clique aqui];
5º) Umbral [clique aqui];
6º) Escravidão [clique aqui].


FUTURO REMOTO – REENCARNAÇÃO [clique aqui]:

1º) Deformidades Físicas [clique aqui];
2º) Emoções em Desequilíbrio [clique aqui];
3º) Reencarnações Curtas [clique aqui];
4º) Recapitulação de Experiências [clique aqui];
5º) Amadurecimento Espiritual [clique aqui].


CONCLUSÃO

Tudo o que foi dito nas causas e consequências acima discriminadas – embora não corresponda ao todo –, é para entendermos que nós mesmos somos construtores de nosso destino. Não há nada que não corresponda a nossa única e exclusiva responsabilidade.
Enquanto Deus nos colocou numa escola (escola da vida) com o único objetivo de sairmos dela mais amorosos e sábios, nós optamos em transformá-la em um hospital, muitas das vezes de loucos.
Somos hoje o resultado do que plantamos ontem, e o amanhã dependerá do hoje. Simples assim!
Enquanto não vencermos as provas que nos são dadas nesta escola da vida para delas nos formarmos o quanto antes, estaremos sujeitos ao contato de seres tão ignorantes quanto nós próprios ainda somos. Esse contato excessivo com a ignorância pode nos fazer crer que o bem e o amor não existem, mas se o filhote de uma ave não procurar olhar para além de seu ninho, nunca se sentirá atraído para o voo. O espiritismo é uma lente para enxergar além do ninho.
Assim, lembremo-nos do convite de Jesus:

Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e toda sua justiça, e todas as demais coisas vos serão dadas em acréscimo.” (Mateus 6:33).

Que pode ser traduzido assim: Buscai em primeiro lugar a sua felicidade própria conforme Deus a estabeleceu, e não seja ingrato, e todas as soluções e respostas aos seus anseios lhe serão dadas no tempo oportuno.


EXORTAÇÃO FINAL

“Eu não vos deixarei órfãos.”  (João 14:18)

Filhos e filhas de Deus.
Nós da espiritualidade sabemos dos imensos desafios que têm que passar nesta vida.
Mas vos pedimos cautela e critério mais acentuados para que não ponham a perder a vós mesmos.
O suicídio é o maior enganador de todos os tempos. Não vos livra de nada. Só aumenta – e muito – vossas dores.
Buscai aquele que não vos engana nunca. Que fez da verdade sua melhor amiga.
Eliminai de vossas mentes ainda imaturas a ideia de morte, posto que esta não existe.
Só é garantia para o próprio bem futuro quem busca estar de bem hoje com a Lei Divina.
Isso mesmo, vocês estão todos subordinados a uma Lei infalível. Ela é autoaplicável. É lei e juiz ao mesmo tempo e da qual ninguém escapa.
Essa mesma Lei manda que cuidem de vocês, mesmo que mais ninguém o faça.
Respeitem o tempo estabelecido a cada um, bem como o tempo necessário para a solução de cada problema, já que não existe problema que o tempo não resolva.
Aceitem a ajuda que sempre vem de Deus, que pode parecer imperceptível num primeiro momento, mas que a ninguém é negada.
As soluções dadas pelo Pai, senão são as que concordamos, com certeza são as que precisamos.
Orem ao Pai e sentirão sua presença a lhes apontar o caminho para a vossa salvação e felicidade.
Ninguém está sozinho neste mundo, nem aquele que optou por este caminho.
Vivam, vivam intensamente! Mas o intensamente do espírito, do amor, da evolução, e não se deixem abater, pois que um soldado se faz na luta e um filho somente sucederá ao pai se por este for educado.
Muita paz. 


Observação: esta exortação final é uma mensagem espiritual trazida a nós por entidade amiga que dispensa a necessidade de identificação.


Se gostou, deixe o seu comentário abaixo



Recado da Esperança - Espírito Maria Dolores - pelo médium Chico Xavier.


As nuvens escuras nunca apagarão o azul do céu.


RECADO DA ESPERANÇA


Nas provações que te surjam
Ergue a fronte e segue
         [à frente.
Aceita, firme e contente,
O caminho tal qual é...
De pensamento tranquilo,
Não pares. Segue e não
          [temas,
Sem crises e sem problemas
Ninguém sabe se tem fé.

Contratempo, desencanto,
Infortúnio, prejuízo,
Tribulações de improviso,
Dificuldades no lar...
Tudo isso se resume
Na escola que nos ensina
A entender a Lei Divina
Que nos impele a marchar.

Esquece os males do mundo,
Mesmo os mais rudes e
         [amargos,
Abraça os próprios encargos
Por íntimos cireneus;
Onde estiveres, relembra
Que o mérito vem da prova,
Que o sofrimento renova
E a dor é bênção de Deus.


Prece nas aflições da vida - O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXVIII.

Deus Todo-Poderoso, que vedes as nossas misérias, dignai-Vos ouvir favoravelmente o pedido que Vos faço neste momento. Se for inconveniente o meu pedido, perdoai-me; e se for justo e útil aos vossos olhos, que os Bons Espíritos, executores de Vossos desígnios, venham ajudar-me na realização. Como quer que seja, meu Deus, seja feita a Vossa vontade. Se os meus desejos não forem atendidos, é que desejais experimentar-me, e submeto-me sem murmurar. Fazei que eu não me desanime de maneira alguma, e que nem a minha fé, nem a minha resignação sejam abaladas. 

(Formular o pedido)


Camilo Castelo Branco - espírito.




Mas uma consequência da qual o suicida não pode escapar, é o desapontamento”. Questão 957 de O Livro dos Espíritos.


Muito tempo depois, mais de 20 anos decorridos, solicitado a dizer sobre o seu suicídio, eis o que o espírito de Camilo Castelo Branco, escritor português, relatou:

“Equivale a pedirem-me sinistra sinfonia para a ópera do Horrível.
Não sei dizer quanto é preciso; e tudo que disser não será, por assaz deficiente, a sombra de verdade necessária. Mas não recuso o meu contingente, nem quero perder a ocasião, que me oferecem, de mais uma vez bradar aos incautos que se defendam de cair no abismo em que me precipitei, em aziaga hora.
Supõe-se aí que o suicídio é a morte.
Alguns creem que na devolução das carnes verminadas à podridão, está a extinção da vida e do sofrimento.
Para esses é a libertação, a quebra da grilheta chumbada ao artelho de forçado do martírio; como para outros é só remédio pronto a embaraços inextricáveis de momento.
Há quem o creia cômodo fecho a uma vida de angústias; como há quem nele veja fácil alçapão por onde se pode fugir às chicotadas do Destino.
Para uns é cura radical de dores; para outros astuciosa maneira de fugir à sorte adversa.
Alguns o têm como remate forçado e benemérito de desilusões; outros o buscam como portaria franca para a região da Esperança.
Aos descrentes é finalização lógica para dificuldades e desgostos; aos infelizes recurso último do desespero acovardado.
Uns creem conquistar com ele a eterna paz do Nada: o sono tranquilo de que não se acorda mais; outros imaginam-no alavanca irresistível para forçar a porta do Esquecimento.
Querem uns, com ele, esmagar remorsos de justiceiro pungir; querem outros, com ele, escalar mais rapidamente o Céu.
E a todos enganam as tredas e alucinadoras miragens da Tentação.
Não é a morte; não há libertação; não constitui remédio.
Não extingue angústias, nem abre caminho à fuga redentora das açoitadas do destino vingador.
Não sara dores, nem acaudilha deserções.
Não põe fim às desilusões da alma, nem encaminha visionários às sonhadas bandas da Esperança.
Não dá, para os descrentes, razão à sua estultícia; nem aos infelizes consolação permeadora do seu desespero pusilânime.
Não conduz o mísero à suprema paz do Nada, nem o acalenta no eterno sono inacordável.
Não abre aos tristes a letárgica região do Olvido; não dá aos remorseadores  mordaça para calar a grita da consciência; nem ajuda aos crentes a tomar de assalto o Céu.
Para todos o suicídio é o desengano.
Simulando defender do infortúnio, impele violentamente ao salto-mortal para o Horror.
Não sei de nada que lhe seja comparável.
Nem a blasfêmia, que eu suponho a suprema ofensa à Razão; nem o fratricídio, que eu acredito a suprema ofensa à Humanidade; nem o matricídio, que eu presumo a suprema ofensa à Natureza.
O suicídio é a suprema ofensa a Deus.
Nele, as dores redobram de intensidade; a alma impregna-se de desesperos, que parecem infindáveis no tempo e na angústia.
Constitui a cristalização da Dor; a aflição da ansiedade que nada satisfaz; a dentada triturante e perene do Remorso.
Eu fui suicida. Querendo fugir à cegueira dos olhos, fui mergulhar-me na cegueira da alma.
Pensando furtar-me à negrura que cobria o meu viver, fui viver na treva onde os suicidas curtem raivas, sem remorso; e blasfemam quando suplicam.
Fui viver na pávida região onde os réprobos se mordem e agatanham; onde gargalham, de olhares em fogo e rangendo os dentes, os furiosos com juízo.
Aonde o suicídio arroja os seus mártires, num repelão brutal de louco, não penetra a Luz de Deus, nem a carícia da Esperança.
Lá, ruge-se, geme-se, chora-se, soluça-se, ulula-se, blasfema-se, pragueja-se e maldiz-se. Não existe paz; não se sabe, nem se pode orar.
É a caverna do Sofrimento, de que Dante só vislumbrou o portal.
Sei que rábicas convulsões lá me sacudiram; que lágrimas ferventes queimaram meus olhos cegos; mas não adrega dizê-las.
As dores descomunais não se descrevem. Sentem-se, no seu ecúleo titânico, mas não se definem. Entram pelo infinito; são o inenarrável; são o incompreensível.
Quando o suicida supõe trancar, com a morte, a porta da Agonia, abre o ciclo infernal do Desespero.
Matando-se, não aniquila a vida; destrói, só num ato de inepta rebeldia, o meio eficaz e providencial do seu progresso; e recua, voluntariamente, a hora desejada da sua felicidade.
A vida, além do suicídio, pertence à fase humana que os homens da Terra não conhecem, para que não têm ideias apropriadas, e a que a necessidade não criou ainda palavras representativas. De umas e outras, todas as que aí mais dolorida, mais trágica e mais sugestivamente pintem o aspecto do Horrível, não dão a impressão esfumada dos tormentos que o suicida entra a curtir, quando, por ingênua ou velhaca presunção, supõe conquistar, por uma violência da sua vontade, o termo do seu sofrer.
Isto é assim. É bom? É mau? É assim. É como é, e, como é, temos de aceitá-lo.
É possível que por aí haja quem fizesse coisa mais de perfeição; mas Deus esqueceu-se, lamentavelmente, de os consultar antes de completar a sua obra.
Foi uma falta grave; mas já vem tarde a grita indignada dos mestres desse mundo, para remediá-la.
Ponham de lado prosápias de emendar o que está feito.
Guardem as sabedorias, que podem melhor servir para adubar manhas e poucas-vergonhas nos conclaves palreiros da asnice em que aí pontificam.
Conjuro os que me lerem a que me creiam sem experimentar.
O desastre será irremediável, se não o fizerem.
Aceitem, aceitem o fato tal ele é.
Aceitem a vida como a puderem fazer. Corrijam-na, corrigindo-se. Amoldem-se às situações, ainda as mais desesperadoras.
A tudo mais Deus provê de remédio; mas Ele é que é o juiz da oportunidade de aplicá-lo.
Aceitem as dores, a cegueira, as deformações, as aberrações, o desespero, as perseguições, a desgraça, a fome, a desonra, a degradação, a ignomínia, a lama, tudo, tudo que de mau, de injusto, ou de rastejante em desprezo a Terra lhes possa dar, que são ainda coisas excelentes em desiludida comparação ao que de melhor possam chegar, pelo caminho do suicídio.”


Fonte: Livro O Martírio dos Suicidas - Almerindo Martins de Castro

Getúlio Vargas - espírito.


  
Getúlio Vargas - 14º e 17º Presidente do Brasil

O diálogo a seguir foi extraído do capítulo 19, intitulado: "Orientações", do livro Getúlio Vargas em dois mundos, médium Wanda A. Canutti, ditado pelo espírito Eça de Queirós. Nele encontramos informações sobre o ocorrido, após tenebroso quão surpreendente suicídio de tão importante e influente personagem da nossa história política. Na conversa que o espírito do ex-presidente do Brasil, Getúlio Vargas, trava com o seu orientador espiritual, Irmão José, fica bem claro que, se a vida é o maior bem que Deus nos concede, o suicídio é o maior crime que praticamos contra nós próprios.

[...]
Nada havia programado e nem marcado para aquele dia, entre o orientador e Getúlio, mas era sabido que, nas condições em que se encontrava, ele não ficaria só, ser-lhe-ia muito difícil. Com certeza procuraria Irmão José, em quem se apoiava, quando ele voltou da entrevista com Irmão Fabrício, já o encontrou à porta de seu gabinete, visivelmente preocupado, dizendo não ter conseguido dormir.
Irmão José convidou-o a entrar, indagando o motivo da sua aflição.
- Nada de novo, mas não desejava estar só! Não via a hora de vê-lo e ter alguma palavra de conforto, algum ensinamento!
- Estou às suas ordens! Você me disse que não conseguiu repousar muito bem, por quê?
- Tudo o que me ocorreu, vem como uma avalanche sobre mim, perturbando-me o coração, e fazendo-me sofrer muito.
- Qual o fato, qual a lembrança que o martiriza mais?
- São tantos, que ainda não consegui separar e especificar nenhum! É difícil, em meio a tanto sofrimento, separar-se o que dói mais, mas fico angustiado quando me lembro de tudo o que me fizeram, no meu último governo. Quantos problemas ficaram sem solução! Quantos ataques não me permitiam agir como pretendia! Quantas ameaças, quantas calúnias e quanta pressão para eu abandonar o governo!
- Se você tivesse suportado com resignação, com compreensão, apoiado em Deus e nos ensinamentos de Jesus, muito teria lucrado, muito o seu Espírito teria evoluído e ressarcido débitos antigos!
- Como débitos antigos?
- Ainda conversaremos detalhadamente sobre isso, mas o que sofremos em uma encarnação, quase sempre é reflexo do que já fizemos outros sofrerem em uma outra! Compreende-me?
- O irmão quer dizer que sofri, porque já fiz outros sofrerem, aquilo mesmo?
- Não significa que tenha feito a eles exatamente o que lhe fizeram! Mas você sabe que temos muitas vidas. Já vivemos muitas existências! O Espírito é eterno e assim vamos à Terra e retornamos ao Mundo Espiritual, muitas vezes. Você sabe disso! Já examinou os propósitos que foram feitos e levados para execução na Terra, e lembra-se ainda de ter partido para a sua última encarnação!
- Sim, mas não me lembro do que possa ter feito antes e nem de como tenha vivido em outras vidas!
- Isso também ser-lhe-á mostrado, no momento certo! Mas voltemos ao que conversávamos!
- O senhor dizia que nem sempre o que sofremos é exatamente o que fizemos outros sofrerem!
- Sim, compreendeu bem! O que ocorre em uma vida, nem sempre acontece do mesmo jeito em outra. A Terra progride, as condições de vida são outras, e não podemos repetir a mesma situação que tivemos  em outra oportunidade. Porém, o sofrimento fica marcado no Espírito, e, se não conseguiu perdoar, quando retorna e tem a oportunidade de conviver na mesma época com quem lhe fez sofrer, seja perto ou mais afastado, sem nem mesmo saber como, aquele ódio retorna e, dentro das condições que lhe são oferecidas, persegue a sua presa o mais que pode. Ao mundo parece uma injustiça, mas perante Deus é a Sua Justiça em ação!
- Quer dizer que tudo o que sofri era porque já havia feito sofrer?
- É isso mesmo! Às vezes não são os mesmos que atingimos, mas Deus permite que outros o façam, como forma de ressarcir os débitos e progredirmos mais! Mas isso também não livra aquele que nos faz sofrer, de suas responsabilidades, entendeu, irmão?
- Sim, e estou com medo, porque realizei também em desfavor de tantos, no cumprimento de minhas atribuições de governante. Muitas vezes agi, ou melhor, consenti que agissem sem piedade, para afastar perturbadores da paz, para retirar aqueles que pretendiam atrapalhar o bom andamento do governo.
- Todos os nossos atos têm que ser ressarcidos um dia, mas não significa que vamos encontrar, frente a frente, os que prejudicamos! Deus nos dá uma infinidade de oportunidades, para trabalharmos em favor de muitos, e desfazermos males antigos! Existem muitos meios para resgatarmos os débitos! Continue a falar dos seus receios e lembranças! O que mais o aflige ainda?
- Pelo que compreendi, através do que me explicou, a responsabilidade que assumimos, ao retirarmos, com nossas próprias mãos, a vida que Deus nos concedeu, é muito grande!
- Sim, é o maior crime que praticamos contra nós próprios! A vida é o maior bem que Deus nos concede, é a oportunidade de crescimento espiritual! Contudo, não o realizamos só para nós, mas para muitos que convivem conosco e, se a retiramos, poderemos retornar, um dia, em condições difíceis, querendo muito fazer, sem nada poder!
- Não me amedronte mais!
- Não o estou fazendo, apenas explicando! Há muitos meios de resgatar débitos, perante Deus! Ele tem diversos caminhos que são, às vezes, desconhecidos por nós, mas nos são mostrados no momento certo. O irmão deve lembrar-se de que já resgatou muito, por ter estagiado em regiões infelizes, como se lembra!
- Sim, tenho ainda em mim todo o sofrimento pelo qual passei, todos que me cercavam e gritavam: suicida, suicida, suicida!... Eu não compreendia naquela ocasião, mas, aos poucos, aquele tempo está retornando todo! Ficamos numa região escura, onde apenas sombras negras transitavam, choravam e gritavam muito! Foi muito triste, irmão! Só não tenho a noção do quanto lá permaneci!
- E como saiu desse lugar, não se lembra?
- Apenas lembro-me de ter tomado consciência de mim, quando me vi aqui, sendo ajudado!
- Muitas coisas devem ter acontecido até que aqui retornasse!
- Eu não me lembro! Às vezes ouvíamos, nesse lugar, um sino batendo, e irmãos que nos diziam palavras confortadoras. Era como se fosse uma pequena delegação que nos levava um pouco de alento. Convidavam-nos a ouvir, e pediam a Deus que nos amparasse! Mas nem todos davam ouvidos ao que diziam, tão mergulhados nos seus próprios sofrimentos se encontravam! Quem sabe foram eles mesmos que me trouxeram aqui! O senhor deve saber!
- Sim, eu sei, mas pretendo que o irmão mesmo se recorde! Foram eles que o recolheram nessas expedições e o trouxeram! Lembra-se do que lhe foi falado, que amigos desta Colônia o acompanhariam na sua encarnação na Terra, para ajudá-lo?
- Lembro-me, mas eu nunca, talvez, tenha percebido!
- Mas eles lá estavam! Muito sofriam quando você não realizava o que devia, afastando-se dos objetivos que planificou! Pois então, amigo, nesta Colônia estávamos sempre informados de tudo, inclusive do seu ato final, do qual procuraram demovê-lo, mas o irmão não conseguiu perceber!
- Por que eles, então, não me recolheram e me trouxeram para cá, no momento em que deixei o meu corpo?
- Exatamente pelos débitos adquiridos no uso de seu livre-arbítrio, e na execução do ato final que encerrou lá a sua vida! Compreendeu-me?
- É muito difícil!
- É a execução da Justiça Divina, irmão! Deus não pune ninguém, somos nós próprios que nos punimos, pelos nossos atos e pela nossa vontade! Deus é bom e nos proporciona sempre o ressarcimento dos débitos, em novas oportunidades! Se não as aproveitamos, vamos acumulando mais débitos para nós!