O Céu e o Inferno
ou
A Justiça Divina Segundo o
Espiritismo
Autor: Allan Kardec.
Lançado em 1865.
Breve relato da obra:
Trata-se, como o próprio título diz, da visão espírita das recompensas e penas
futuras, comumente conhecidas como céu e inferno na tradição católica. Contém
impressionantes relatos de espíritos das mais diversas categorias.
Segunda Parte – cap. V
SUICIDAS
LOUVEST
FRANÇOIS-SIMON
(Do Havre)
A seguinte comunicação foi dada
espontaneamente, em uma reunião espírita no Havre, a 12 de fevereiro de 1863:
“Tereis piedade de um pobre miserável que passa há muito por
cruéis torturas?! Oh! o vácuo... o espaço... despenho-me... caio... morro...
Acudi-me! Deus, eu tive uma existência tão miserável... Pobre diabo, sofri fome
muitas vezes na velhice e foi por isso que me habituei a beber, a ter vergonha
e desgosto de tudo.
Quis morrer, e atirei-me... Oh! meu Deus! Que momento! E para
que esse desejo, quando o termo estava tão próximo? Orai para que eu não veja
incessantemente este vácuo debaixo de mim... Vou despedaçar-me de encontro a
essas pedras! Eu vo-lo suplico, a vós que conheceis as misérias daqueles que
não mais pertencem a esse mundo.
Não me conheceis, mas eu sofro tanto... Para que mais provas?
Sofro! Não será isso o bastante? Se eu tivera fome em vez deste sofrimento mais
terrível e aliás imperceptível para vós, não vacilaríeis em aliviar-me com uma
migalha de pão. Pois eu vos peço que oreis por mim... Não posso permanecer por
mais tempo neste estado... Perguntai a qualquer desses felizes que aqui estão e
sabereis quem fui. Orai por mim.
François Simon-Louvet.”
O Guia
do médium: “Esse que acaba de se dirigir a vós foi um
pobre infeliz que teve na Terra a prova da miséria; vencido pelo desgosto,
faltou-lhe a coragem, e, em vez de olhar para o céu como devia, entregou-se à
embriaguez; desceu aos extremos últimos do desespero, pondo termo à sua triste
provação atirando-se da Torre Francisco I, no dia 22 de julho de 1857. Tende
piedade de sua pobre alma, que não é adiantada, mas que lobriga da vida futura
o suficiente para sofrer e desejar uma reparação. Rogai a Deus lhe conceda essa
graça e com isso tereis feito obra meritória.”
Buscando-se informes a propósito do
assunto, encontrou-se no Journal du Havre, de 23 de julho de 1857, a seguinte
notícia, que resumimos:
“Ontem, às 4 horas da tarde, os transeuntes
do cais foram dolorosamente impressionados por um horrível acidente: um homem
atirou-se da torre, vindo despedaçar-se nas pedras. Era um velho puxador de sirga,
cujo pendor à embriaguez o arrastara ao suicídio. Chamava-se
François-Victor-Simon Louvet. O corpo foi transportado para a casa de uma das
filhas, na Rua Cordeire.
Tinha 67 anos de idade.”
Observações
de A. Kardec: Seis anos fazia que esse homem morrera e
ele via ainda cair da torre, despedaçando-se nas pedras... Aterra-o o vácuo,
horroriza-o a perspectiva da queda... e isso há 6 anos! Quanto tempo durará
esse estado? Ele não sabe e essa incerteza lhe aumenta as angústias. Isso não
equivale ao inferno com suas chamas?
Quem revelou e inventou esses castigos?
Pois são os próprios padecentes que os vem descrever, como outros o fazem das
suas alegrias. E fazem-no muita vez, espontaneamente, sem que neles se pense –
o que exclui toda hipótese de sermos nós o joguete da própria imaginação.
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